1.6.06

CLAUDIA FISCHER

No âmbito da Programação do Festival Músicas do Mundo, a Câmara Municipal de Sines e o Centro de Artes apresentam a exposição de Claudia Fischer. Residente em Portugal há alguns anos, a artista tem desenvolvido um trabalho centrado no tema da migração, uma vez que viaja frequentemente entre a Alemanha e Portugal. Apresentou recentemente três corpos de trabalho na Galeria Luís Serpa Projectos, em Lisboa, nomeadamente:

O PASSAGEIRO TRANSPARENTE [2005, C-Print, DiaSec, 40 x 60 cm, 15 elementos], que remete para a ideia de bagagem e para a ideia de viagem. A bagagem assume a emblemática atitude de movimento e de circulação mas também, e principalmente, significa um momento de ruptura, i.e., aquele instante em que decidimos o que levar, incluindo aquilo que nos pertence, ou seja, os objectos que configuram a nossa identidade. Por outro lado, a noção daquilo que “transportamos” na bagagem representa um elo de ligação com o passado. A ideia de viagem, por sua vez, tem que ver com os símbolos de afecto e as memórias que transportamos, referidas por livros de Joyce a Beckett, de Hemingway a Clifford, de Conrad a Chatwin. Estas narrativas remetem para locais de trânsito, de passagem ou de permanência temporária no qual se «sobrepõe espaço e tempo, produzindo complexas figuras de diferença e identidade, passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão» (H. Bhahbah), assim como remetem para a questão dos não-lugares, plenamente apropriada pelo napoleónico poder policial concebido pelas diversas administrações estatais, que se servem dos novos meios de comunicação possibilitados pelas novas tecnologias, e que pretendem adoptar a medida de vigilância global a todas as funções que assegurem comportamentos tipificados dos cidadãos de modo a convertê-los à sociedade disciplinada.

BERTOLT-BRECHT-STR.22 [2006, Prova gelatina e prata, 47,3 x 57,4 cm, 9 elementos], que é uma instalação que reúne nove fotografias a preto e branco, impressões digitais dos dedos de Claudia Fischer, bem como dos pais e alguns de vizinhos da casa onde nasceu e viveu em Jena (Weimar), que acabou de ser desmontada pela mudança dos seus pais. Trata-se de um exercício auto-biográfico da artista realizado através de uma super-gráfica pintada na parede com o nome e o número da rua que representam um projecto sobre a (sua) memória.

BAHNSTEIG ZWEI [2004, Vídeo projecção, Digital Pal, 12'15], que fala de nomadismo, ou de trajectórias entre pontos geográficos, quase esgotando todas as suas modalidades (turismo, imigração, exílio, peregrinação). Realizado na Alemanha, mais concretamente numa estação ferroviária, a artista centra-se mais uma vez num cenário de espera relacionado com viagens. São aproximadamente 12 minutos, que resultam de um elaborado trabalho de montagem das várias horas em que se filmou, sempre com o mesmo enquadramento, uma determinada parcela da estação e é esta relação, i.e., esta constituição momentânea de micro-comunidades, que a artista explora de uma forma muito subtil. Claudia Fischer consegue, graças a uma espantosa acuidade na composição e na montagem, estabelecer pequenos laços, quase imperceptíveis e aparentemente fortuitos, entre os vários passageiros que chegam, sentam-se e partem, transformando este vídeo num habitante de fronteira, oscilando permanentemente entre a curta narração e o documentário antropológico.

A exposição, agora apresentada em Sines, inclui ainda as obras:

  1. 19 Fotografias da série "Bertolt-Brecht-Str.22";
  2. 15 Fotografias da série "Passageiro Transparente";
  3. 01 Vídeo "Bahnsteig Zwei";
  4. 02 Fotografias da série "Please Wait at the Yellow Line";
  5. Algumas fotografias da série “da Rua da Palma”;
  6. 01 Instalação.